A Coordenação de Implantação do HIDS (Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável) Unicamp foi criada em 2022 por meio da Resolução nº 23 para formular o planejamento inicial da Fazenda Argentina. Nesta quinta-feira, dia 10, foi apresentada uma primeira versão da proposta de plano em evento que contou com a presença do reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, do pró-reitor de pesquisa, João Marcos Travassos Romano, do pró-reitor de extensão e cultura, Fernando Antonio Santos Coelho, e de cerca de 50 professores e pesquisadores da Universidade. “Na construção do HIDS Unicamp, temos o desafio de mostrar para toda a sociedade que é possível compatibilizar visões e promover desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente. Acredito que, com este projeto, poderemos dar um salto significativo no papel que a Unicamp pode desempenhar no Brasil, na América Latina e no mundo”, disse o reitor na abertura do evento.
Adquirida em 2013 pela Unicamp, o uso e a ocupação da Fazenda Argentina não chegaram a ser incluídos no escopo do Plano Diretor Integrado (PDI). O plano de ocupação apresentado na quinta-feira tem como objetivo orientar a implantação ordenada do HIDS Unicamp na Fazenda Argentina, em harmonia com o desenvolvimento do HIDS em seu entorno e com os princípios do PD-Integrado da Unicamp. “Quando não há planejamento antes de ocupar um território, em geral não se aplica um uso mais racional do terreno e, com isso, muitas oportunidades são perdidas”, pontuou a arquiteta e professora da Fecfau Gabriela Celani.
De acordo com ela, a questão não é simplesmente planejar, mas entender o conceito por trás desse planejamento. No caso da Fazenda Argentina, não se trata de fazer uma mera ‘divisão’ do território para diferentes projetos, mas de aplicar um conceito mais inovador, criando um adensamento mais concentrado, deixando mais áreas livres. “Com isso, você reduz o impacto da ocupação nos recursos naturais. As áreas livres podem ser aproveitadas em outras atividades como agricultura experimental, usina solar, preservação ambiental etc. Essa mudança de paradigma é o mais importante”, explicou Celani, que também é diretora do Centro de Estudos sobre Urbanismo para a Inovação e o Conhecimento (Ceuci) e membro da equipe do HIDS Unicamp.
Na apresentação da proposta, o coordenador da equipe da implantação do HIDS Unicamp, Mariano Laplane, explicou que a ideia foi incorporar os conceitos que são considerados os mais sustentáveis, os mais racionais e os mais ecologicamente corretos atualmente sob os pontos de vista da arquitetura e do urbanismo. “A versão final da proposta será encaminhada à administração para discussão nas instâncias deliberativas da Universidade”, salientou.
Uma ocupação mais compacta e sustentável
O plano de ocupação também levou em consideração as características biofísicas da área da Fazenda Argentina, bem como os remanescentes de vegetação nativa, matas tombadas, Áreas de Proteção Permanente (APPs) e o fluxo de fauna. Em todas estas áreas, as construções estão proibidas. De acordo com a proposta, na área da Fazenda, as APPs têm 50 metros de largura de cada margem dos córregos e de raio ao longo das nascentes. É importante mencionar que tanto as APPs quanto as matas tombadas estão passando por processo de restauração ecológica no âmbito do projeto Corredores Ecológicos da Unicamp.
O diagnóstico ambiental e as revisões preliminares indicam que existe, no HIDS, uma vegetação e uma fauna resilientes e adaptadas à matriz predominantemente urbano-rural de seu território. A partir destes dados, a equipe do HIDS Unicamp está elaborando um Plano de Monitoramento da Biodiversidade para fornecer diretrizes gerais que possam embasar as decisões e procedimentos, surgidos mediante a demanda ambiental e as oportunidades de pesquisa oferecidas durante a implantação e o funcionamento do HIDS.
Com relação ao uso do solo, a partir da proposta de master plan elaborada pelo instituto coreano KRIHS, no âmbito do convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), nas contribuições recebidas na consulta à comunidade da Unicamp e na série de oficinas Unicamp 2050, propõe-se que, ao longo do período 2024-2050, a área construída ocupe no máximo 25% da área total da Fazenda (ou 350 mil m2). Esta área, com 280.000 m² ou 20% da área total, inclui espaços reservados para instalações da Unicamp. “Esta dimensão é adequada para abrigar os 75 projetos cadastrados na consulta de demanda que fizemos junto à comunidade, em que a área potencialmente necessária foi estimada em 170.000 m², além de outros projetos que possam ser de interesse da universidade”, detalhou Laplane. Além disso, 70.000 m² (ou 5% da área total reservada para receber edificações) serão destinados à implantação de equipamentos públicos e comunitários, conforme exigido por lei.
Ainda de acordo com o plano de ocupação, 75% do total da área da Fazenda (ou 1.050.000 m2) devem permanecer como áreas livres. Isso significa que a área que não poderá ser construída representa três quartos da área total da área da Fazenda Argentina e inclui áreas ecológicas, experimentais e de uso social.
Mobilidade ativa e caminhabilidade
A elaboração da proposta de sistema viário para a Fazenda Argentina contou com a colaboração de pesquisadores do Ceuci. Ela tem como ponto de partida as diretrizes viárias propostas pela Prefeitura Municipal de Campinas na minuta do PLC para o PIDS, mas também considera as manchas de vegetação remanescente, o projeto dos corredores ecológicos, a localização das APPs, a via existente que conecta a sede da Inova ao campus Zeferino Vaz e a possibilidade de uso agrícola na faixa não edificável sob a linha de transmissão de energia elétrica que cruza a Fazenda.
Conforme explicou Laplane, o objetivo foi integrar a malha viária interna da Fazenda com a da cidade como um todo, bem como evitar a criação de cercamentos, bolsões, cancelas e interrupções. Além disso, a proposta prevê redução do número e da largura de faixas veiculares, além de estratégias de acalmamento de tráfego, sem criar barreiras físicas a pedestres ou ciclistas. “Buscamos respeitar as pré-existências e os projetos anteriores para a área da Fazenda e principalmente promover a caminhabilidade, por meio da criação de uma malha urbana com maior permeabilidade para o pedestre”, destacou a arquiteta e pesquisadora do Ceuci, Marcela Noronha.
Além da ocupação mais compacta, uma premissa estabelecida na proposta apresentada à comunidade é que haja uma implantação gradual das áreas reservadas para edificações, aproveitando, em uma primeira fase (2025-2030), a infraestrutura existente na borda norte da Fazenda Argentina (Av. Ricardo Benetton) e explorando as sinergias com parceiros do HIDS instalados nas proximidades. “A implantação de instalações próximas da sede da Inova permitirá ocupar progressivamente as áreas na frente do CPQD e gerar massa crítica para atrair parceiros externos”, pontuou o coordenador do HIDS Unicamp. Ainda de acordo com ele, a ocupação da borda sul da Fazenda depende fundamentalmente da construção da infraestrutura viária, processo sobre o qual a Unicamp não tem governança. Por esse motivo, propõe-se concentrar os esforços na outra borda. “O desenvolvimento de parcerias externas, com atores públicos e privados, é indispensável em função do volume de recursos necessários, tanto para a construção de instalações acadêmicas como de equipamentos públicos e comunitários”, destacou o coordenador.
“Poucas universidades têm o potencial da Unicamp em termos de diversidade de áreas de pesquisa, de formação de pessoas e de localização. Temos próximo ao nosso campus importantes instituições e equipamentos de pesquisa. Isso gera muitas possibilidades. Temos que aproveitar isso. O modelo de ocupação do HIDS Unicamp pode ajudar a aprofundar parcerias para gerar desenvolvimento e qualidade de vida para as pessoas e mostrar que é possível conciliar isso com a conservação dos recursos naturais”, afirmou Meireles. “Nosso desafio é alinhar as diferentes perspectivas em torno de uma proposta concreta de ocupação e depois, trabalhar para efetivá-la de modo a criar pontes para um futuro melhor”, ressaltou o reitor.
Por Patricia Mariuzzo