Grupo interdisciplinar está desenvolvendo uma plataforma para avaliar todas as ações e atividades planejadas para o HIDS
A proposta de um Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS) é construir uma estrutura que combina e articula ações, através de parcerias e cooperações entre instituições que possuem competências e interesses voltados a prover contribuições concretas para o desenvolvimento sustentável. Mas como saber se os projetos, atividades e iniciativas planejadas e as que serão consolidadas no HIDS estão mesmo de acordo com o que preconizam os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU?
Pensando nisso foi criado um grupo de trabalho inteiramente dedicado ao desenvolvimento de uma metodologia de avaliação de sustentabilidade para o HIDS. Interdisciplinar, a equipe reúne profissionais de diversas áreas da Unicamp e das instituições que compõem o Conselho Consultivo do HIDS, entre elas a Embrapa, Sanasa, CPQD, Instituto Eldorado, Facamp, PUC-Campinas, TRB Pharma, CPFL e Cargill. “A sustentabilidade é um pilar do HIDS. Daí a necessidade de estabelecer uma estratégia para avaliar a sustentabilidade de todas as ações do HIDS de modo permanente”, explica Marcelo Cunha, professor do Instituto de Economia da Unicamp e coordenador desse grupo de trabalho. “Nossa ideia é articular metodologias que já existem, podendo aplicá-las em projetos de naturezas diferentes”, afirmou Cunha. Entre essas metodologias está, por exemplo, o sistema de ranqueamento UI GreenMetric, que estabelece indicadores de sustentabilidade específicos para avaliar e balizar as futuras decisões em universidades, da qual a Unicamp e a PUC já participam. Outro exemplo é a análise de ciclo de vida voltada para edificações que poderia orientar todas as novas construções do HIDS.
Mundo corporativo – A plataforma também vai incorporar metodologias de avaliação corporativas. Essas metodologias têm como objetivo avaliar e gerar índices de sustentabilidade das empresas, mostrando o quanto elas estão engajadas em um modelo de desenvolvimento sustentável. “Em geral elas trabalham com dimensões como governança, direitos humanos, meio ambiente e integração com os ODS. Cada dimensão tem critérios e pesos (como se fossem notas) que vão gerando uma pontuação para a empresa”, explica Clara Leite, consultora do BID que atua nessa componente de planejamento do HIDS. Um exemplo de critério seriam compromissos sociais e ambientais formalizados e para cada resposta a empresas deve ter algum tipo de evidência.
Plataforma de avaliação – O resultado final desse trabalho deve ser uma plataforma de acesso aberto a partir da qual serão gerados índices de sustentabilidade nos aspectos social, econômico e ambiental. Para isso o grupo de trabalho vai contar com o apoio do Instituto de Computação da Unicamp onde foi criada uma disciplina “Projetos em sistemas de computação”, onde alunos vão ajudar a construir essa plataforma para sistematizar e automatizar a coleta de dados e geração de indicadores. “A sustentabilidade é um assunto que não aparece muito no currículo da computação. Queremos provocar os alunos a refletirem sobre como as tecnologias de informação podem contribuir para o desenvolvimento sustentável”, afirmou a professora Juliana Freitag Borin, responsável pela disciplina no IC. “A ideia, que já foi colocada em prática em outras unidades de ensino da Unicamp, é aproveitar o conhecimento dos nossos alunos e o processo de ensino para construir o HIDS. A ideia é que essa disciplina seja um espelho do trabalho da nossa componente de trabalho”, disse Marcelo Cunha. “O HIDS é um projeto complexo e a construção dessa plataforma não poderia ser diferente. Teremos que levantar os requisitos do sistema, conversar com nosso “cliente” para ter clareza das suas necessidades e dores”, acrescentou a professora Juliana.
Para ajudar os alunos a conhecerem como se dá a interação com os clientes, a primeira aula da disciplina, que aconteceu no último dia 24, contou com a presença de Silvana Xavier, chefe de transformação digital da CI&T, empresa-filha da Unicamp, pioneira na aplicação de design e tecnologias avançadas como machine learning, inteligência artificial (AI), analytics, cloud e mobility e que tem como clientes grandes líderes do mercado, como a Coca Cola, Itaú, Motorola, Vivo e Johnson&Johnson. “Estamos na era do consumidor e isso força todas as empresas a se adaptarem para saber do que ele precisa e atendê-lo. A partir do momento em que a computação deixa de ser uma área de suporte da empresa para ocupar uma posição estratégica, essa regra também vale para os desenvolvedores, é preciso trazer valor para o cliente”, explicou Silvana. Segundo ela, uma das principais causas do fracasso de start ups é desenvolver algo que ninguém quer. Por isso é fundamental identificar o público alvo e ter claro o problema que ser quer resolver.
Ao longo da disciplina, os alunos vão conhecer diversas metodologias de avaliação de sustentabilidade para que eles consigam entender o problema e desenvolver uma solução de apoio ao desenvolvimento sustentável. O resultado final do trabalho será uma plataforma de avaliação de sustentabilidade que permitirá analisar tudo o que for edificado no HIDS e todas as iniciativas em Pesquisa&Desenvolvimento que vierem a ser implementadas. De acesso livre, ela também vai viabilizar a entrada e atualização de dados de modo automático e ao longo do tempo, não apenas quando houver necessidade de gerar indicadores. Com isso, será possível detectar desvios e fazer correções. “Eu acredito que essa experiência pode acrescentar muito à formação desses alunos. Por conta das exigências do mercado, as empresas estão cada vez mais comprometidas em gerar bons indicadores de sustentabilidade, então um profissional da computação que já tenha esse conhecimento terá um diferencial no mercado de trabalho. Além disso, trazer problema real para qualquer disciplina é sempre mais motivador”, pontuou Juliana.
Por Patricia Mariuzzo