Cerca de 15 mil pessoas passaram pelo Campinas Innovation Week, que aconteceu na última semana. Em sua primeira edição, o evento de inovação, tecnologia e negócios aconteceu no prédio da Oficina de Locomotiva da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, na Vila Industrial, em Campinas. “Um lugar como esse abrigar um evento que coloca em destaque o ecossistema de inovação de Campinas é uma oportunidade de lembrar o passado e sinalizar para um futuro em que a tecnologia ajude a solucionar os desafios da emergência climática”, afirmou o prefeito Dario Saadi na abertura do Campinas Innovation Week, dia 10.
Não por acaso o Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS) foi um dos destaques do evento. “Entendemos que é estratégico promover o HIDS como o principal projeto de Campinas e da Região para consolidar nosso ecossistema como um gerador de soluções para o desenvolvimento sustentável”, disse o presidente da Fundação Fórum Campinas Inovadora (FFCi), Eduardo Gurgel do Amaral. Há 12 anos a Fundação organiza o Inova Trade Show, que fomenta oportunidades de negócios e networking, apresentando tecnologias e tendências para o ecossistema de inovação e empreendedorismo e, que este ano, por conta das comemorações dos 250 anos da cidade de Campinas, aconteceu juntamente com o Campinas Innovation Week. “Temos que aproveitar as oportunidades geradas por esse ambiente de produção de conhecimento e de alta tecnologia que temos aqui, para consolidar Campinas e região como um ecossistema de referência em nível nacional e internacional alinhado à Agenda 2030. Todo o nosso esforço tem sido neste sentido”, complementou Gurgel, que também compõe a equipe da Coordenação do HIDS Unicamp.
O reitor da Unicamp, professor Antônio José de Almeida Meirelles a Unicamp, apresentou o HIDS no painel de abertura do Inova Trade Show que discutiu as oportunidades geradas pelos distritos de inovação para o desenvolvimento regional. “O HIDS está sendo planejado com a participação de atores importantes do ecossistema de inovação da cidade para ser um lugar onde conhecimento, talentos, recursos institucionais se combinam para gerar inovação, um complexo de laboratórios vivos em torno de temas fundamentais para um mundo mais sustentável como água, alimentos, energia, mobilidade e saúde”, afirmou. “Em Campinas, temos a vantagem de já contar com instituições de ensino, institutos de pesquisa, empresas vocacionadas para gerar inovações. O HIDS quer ser um catalisador das ações de todos estes atores e, para isso, é fundamental a atuação do poder público para este modelo prosperar”, destacou o reitor.
Para Aurílio Caiado, secretário de finanças da Prefeitura de Campinas, também presente no painel, o papel do poder público é ser ao mesmo tempo um indutor e um regulador destes ambientes de inovação. Nesse sentido, ele lembrou que, no final de 2022, a Prefeitura de Campinas elaborou uma minuta de Projeto de Lei Complementar (PLC) alterando o zoneamento do Polo 2 de Alta Tecnologia para permitir a implantação do projeto do HIDS, com uma expansão ao norte, compondo um território mais amplo que passou a ser chamado de PIDS. “Por meio do novo texto, que aguarda votação na Câmara Municipal, espera-se induzir a criação um ambiente permeável, que favoreça a circulação e os encontros”, disse.
Um dos elementos do PLC que deve favorecer isso é a proibição de condomínios fechados na área do HIDS. De acordo com Alan Cury, diretor de planejamento urbano e meio ambiente, da SECOVI Campinas, o setor imobiliário têm recebido bem as notícias sobre o HIDS. “Estamos aguardando a aprovação do PLC e a expectativa é fazer experimentações urbanística naquela área”, contou. O reitor da PUC-Campinas, professor Germano Rigacci Junior, reforçou a importância da segurança jurídica para atrair investimentos, infraestrutura e novos atores para a região do HIDS. Ele sugeriu a criação de um pacote de benefícios fiscais para alavancar a ocupação do território. “O ecossistema de inovação de Campinas já abraçou o projeto, nosso desafio é criar as condições para que ele se consolide com um espaço inovador”, afirmou Rigacci, que também é presidente do Conselho Superior e Curador da FFCi.
Um exemplo bem-sucedido desta articulação entre empresas e o poder público característica de distritos de inovação em uma escala menor é o Tropical Food Innovation Lab, um espaço para geração de soluções, novas tecnologias e novos alimentos e bebidas, novos produtos à base de proteínas e inovações na área de saúde e bem-estar. “Somos fruto de uma parceria público-privada pioneira criada para potencializar a inovação colaborativa no setor de alimentos e bebidas”, contou Paulo Silveira, diretor do Tropical. Participam da iniciativa a Buhler, fabricante de equipamentos industriais, a multinacional da área de alimentos e membro do Conselho do HIDS, Cargill, a Givaudan, empresa suíça do ramo de ingredientes alimentícios, e o governo do Estado de São Paulo, por meio do Instituto de Tecnologia de Alimentos, o Ital. “Campinas já é a capital da food tech na América Latina por isso não é nenhuma surpresa que os estudos realizados no âmbito do HIDS tenham identificado a produção de alimentos como um do eixos estratégicos do projeto. Cada vez mais a inovação vai acontecer a partir de parcerias e de compartilhamento de infraestrutura. O HIDS vai nos ajudar a colocar isso em prática em uma escala maior e, ao mesmo tempo, o modelo de parceria do Tropical Lab pode inspirar parcerias no HIDS”, pontuou Silveira.
Transição energética
Outra área chave para um futuro mais sustentável é a transição energética, tema do painel “Além dos combustíveis fósseis: estratégias para uma transição energética efetiva”, que aconteceu no dia 13 de junho e que contou com a presença dos pesquisadores da Unicamp, Marcelo de Souza Castro, diretor do Cepetro e de Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, líder do Laboratório de Genômica e Bioenergia, ligado do Instituto de Biologia. As discussões enfatizaram a urgência de mudar do paradigma dos combustíveis fósseis para fontes de energia renováveis e sustentáveis e como a inovação tecnológica, o financiamento verde e a colaboração internacional podem acelerar a implementação de sistemas energéticos limpos, resilientes e acessíveis. “Uma das estratégias para esta transição são os biocombustíveis”, destacou Pereira. Segundo ele, esta tecnologia tem forte potencial para ser a base de uma economia circular que possa avançar para uma economia linear “positiva” capaz de gerar novas formas de capturar carbono”, afirmou. O painel também teve a participação de José Biruel Júnior, gerente de planejamento e gestão de inovação do Centro de Pesquisas da Petrobrás, e de Bruno Vergani De Luca, gerente de otimização da Replan, em Paulínia.
“O principal objetivo da participação da Unicamp no Campinas Innovation Week e no Inova Trade Show era demonstrar a íntima relação e integração entre pesquisa, desenvolvimento, inovação e sustentabilidade. Estes elementos basearam a organização do estande da Unicamp no evento, no qual mostramos grandes projetos de pesquisa da Universidade que já tem interface com empresas e agências tecnológicas, a Inova e toda sua ação fomentando a interação entre sociedade e a universidade, por meio da inovação, e a visão de futuro que a Unicamp tem na aliança entre inovação e sustentabilidade através do projeto HIDS”, explicou Roberto Donato, coordenador do HIDS Unicamp. “Este formato, que permeou a presença da Unicamp no evento, gerou muita interação com setores do empresariado, com agentes públicos que estavam presentes e com o público de maneira geral e nossa expectativa é que a presença da Unicamp renda frutos para o futuro da Universidade e para a sociedade como um todo”, finaliza Donato.
Por Patricia Mariuzzo