Principais objetivos: Mudanças climáticas, eventos extremos, pandemias, crise político-institucional, urbanização crescente e precária, além das perdas ecossistêmicas expõe o quadro antropocêntrico que a sociedade humana vem experimentando globalmente. Os impactos se aprofundam nos países em desenvolvimento, cuja população possui elevada vulnerabilidade, expondo-se mais severamente aos impactos dos eventos climáticos extremos, ao lado da perda ecossistêmica, escassez de alimentos, recursos hídricos, energia e moradias seguras e dignas. Lidar com esse cenário exigirá que comunidades estejam conscientes e adaptadas aos efeitos dos eventos climáticos extremos, de seus impactos e as formas de adaptação a um custo que se ajuste a suas realidades.
A presente pesquisa de tema “A face sociopolítica da crise climática e eventos extremos: um estudo com as ecovilas paulistas e bávaras” dedica-se a investigar as ecovilas com sede no Estado de São Paulo e no Estado da Bavária, Alemanha, no eixo Norte – Sul, da crise climática e eventos extremos. É realizada sob a responsabilidade da pesquisadora e doutoranda, Luciana Lima Domingues de Souza (R.A.109835), dentro do Programa de Doutorado em Ambiente Sociedade do NEPAM/IFCH/UNICAMP, tendo iniciado em março de 2022. Conta com a orientação da Prof. Dra. Leila da Costa Ferreira (NEPAM/IFCH/Unicamp) e co orientação da Prof. Ana Maria Heuminski de Ávila (CEPAGRI/UNICAMP).
Ecovilas são uma espécie específica de assentamento humano, originárias de movimentos sociais identitários da Europa na década de 60 e 70, que, após a Eco 92, tendo sido eleitas como uma das melhores formas de se viver pela ECOSOC (ONU-HABITAT), espalharam-se por todo o Globo Sul. Esses grupos se estabelecem intencionalmente a partir de economias familiares sob o propósito da regeneração de ambientes humanos, sociais, econômicos e naturais. Embora possam se mostrar de diferentes formatos nos territórios em que se enraízam, essas comunidades guardam as especificidades a partir das quais têm se replicado por toda parte: i. processos participativos locais; ii. integração interna nas dimensões sociais, culturais, econômicas e ecológicas da sustentabilidade; e iii. regeneração de ambientes sociais e naturais como propósito institucional.
As ecovilas especificam-se pela diretriz de organização e gestão institucional do cooperativismo e associativismo, sob autogoverno e auto-organização, operando na economia compartilhada e solidária, mediante uma governança circular e participativa da sociocracia e comunicação não violenta, com o uso de tecnologias sociais e ambientais de mínimo impacto, para o atingimento das quatro dimensões da sustentabilidade (social, cultural, ecológica e econômica), a fim de regenerar ambientes humanos, sociais e naturais. Esse contexto as impulsiona ao propósito de reinvenção da lógica da vida por algo mais criativo, minimalista e de menor impacto ambiental. No entanto, conviver em uma ecovila exige treinamento e capacitação prévia. Ademais, é importante ressaltar, que as inovações e práticas desenvolvidas pelas ecovilas são aplicadas não apenas em benefício de suas próprias comunidades, como também do seu entorno, colaborando com a sustentabilidade do ecossistema natural, humano, social e econômico local, subnacional e de suas biorregiões.
Em pesquisa anterior de tema “O papel das ecovilas no desenvolvimento local sustentável”, realizada em 2020 e 2021, durante o Mestrado em Sustentabilidade na PUCCAMP, foi constatado pela pesquisadora responsável, que as ecovilas paulistas contribuem efetivamente com 16 dos 17 ODS da Agenda 2030, sendo que apenas o ODS 14 – “Proteger a vida marinha” não foi demonstrado é mencionado. Contudo, considerando que o ODS 13 – “Mudanças Climáticas” não foi objeto de análise a despeito de sua constatação, a pesquisadora voltou o olhar e esforços na investigação das ecovilas no contexto da crise do clima e eventos extremos, sendo este tema e abordagem inédito no Globo Sul e Norte.
Em janeiro de 2023, a presente pesquisa foi aprovada para recebimento de bolsa pela Agência FAPESP (Mudanças Climáticas) no Processo no. 2022/09617-0 (Linha de Fomento: Programas Regulares / Bolsas / No País / Doutorado – Fluxo Contínuo) cuja vigência é de 01/01/2023 a 30/06/2026. A pesquisa também está vinculada ao Projeto de Pesquisa Temático de tema “O desafio da governança da emergência climática. Uma análise multinível e multiatores em 4 países: Brasil, Equador, Moçambique e Alemanha”, registrado no Processo no. 2022/13225-0 perante a FAPESP (Mudanças Climáticas), sob responsabilidade da Prof. Dra. Leila da Costa Ferreira, vinculado ao ao IFCH/UNICAMP. Também em janeiro de 2023, a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa de Ciências Humanas e Sociais da Unicamp no Processo CAAE: 64986222.6.0000.8142, quando então foram iniciadas as pesquisas em campo.
Como objetivo principal, a investigação se propõe a analisar como as ecovilas rurais incorporam a crise climática e eventos extremos, sua forma de interpretação e resposta ao cenário de insegurança e medo, tomando-se o estado da Baviera, na Alemanha, como referência ao estado de São Paulo, no Brasil. Nesse contexto, serão investigados os saberes, tecnologias sociais e técnicas ambientais de baixo impacto, desenvolvidos pelos coletivos, em resposta às respectivas Agendas de Adaptação, além do uso e ocupação do solo, arranjos institucionais e o cooperativismo e associativismo praticados no contexto do Antropoceno e da crise climática instalada, aqui e acolá. Por fim, propõe-se ao levantamento dos eventos extremos vivenciados pelas ecovilas rurais em uma série de 10 anos, nos estados de São Paulo e Baviera, identificando-se o que significa “evento extremo” a essas comunidades em contraponto ao que é aceito como parâmetro no meio científico, para expor o atendimento às necessidades e expectativas da sociedade contemporânea de cada um dos estados analisados.
A pesquisa trabalhará não apenas o ODS 13, como também com o 2, 3, 4, 5, 6, 11, 12, 13, 15, 16 e 17 através de seus objetivos específicos, trazendo ao estudo a questão de riscos e impactos no uso e ocupação do solo, tratamento da cobertura verde através de sensoriamento remoto e análise da paisagem, as tecnologias sociais de mediação de conflitos, formas de se lidar com o racismo climático e questões de gênero, além de técnicas ambientais de baixo custo na geração de energia, saneamento básico, proteção, conservação e regeneração de recursos hídricos, construções sustentáveis de moradias, técnicas de produção de alimentos agroecológicos e os arranjos institucionais com outros movimentos identitários presentes nas ruralidades e nos ambientes urbanos, a academia e o Estado.
No Brasil, a partir de uma amostra formada por 09 ecovilas rurais de Campinas, Nazaré Paulista, Cunha, Vargem Grande Paulista, Piedade, São Roque, Juquitiba e Ubatuba, além de duas organizações sociais apoiadoras e catalisadoras do movimento nacional das ecovilas, serão entrevistados de forma profunda e semiestruturada 22 integrantes, para se conhecer como a crise climática está sendo tratada no âmbito das unidades de análise. No momento, já foram entrevistados um terço da amostra, assim como já foi confirmado o recebimento da pesquisa pela Augsburg Universität, no Zentrum für Klimaresilienz recém inaugurado. Ademais, já está sendo organizada a banca internacional de qualificação para dezembro de 2023.
Nome: Luciana Lima Domingues de Souza
Unidade: NEPAM / IFCH / UNICAMP
Pessoas envolvidas: 7
Estágio atual: Em andamento (coleta de dados)
Como se integra à Agenda 2030: ODS 2, ODS 3, ODS 4, ODS 5, ODS 6, ODS 11, ODS 12, ODS 13, ODS 15, ODS 16 e ODS 17
Há interesse em ocupar o HIDS Unicamp: Sim
Se sim, qual a área estimada: 100
Como a proposta se integra ao projeto de ocupaão do HIDS Unicamp: O “clima” marca a crise civilizatória contemporânea, impondo à humanidade o esforço de lidar com a crise por estratégias de adaptação e mitigação de impactos, ainda que em um cenário de incertezas e probabilidades, para antever como os sistemas terrestres e a conjuntura socioeconômica reagirá no futuro. Assim, a dependência do clima aliada ao intenso e extenuante uso e ocupação do solo torna as áreas, urbanas e rurais, insustentáveis. Lidar com esse cenário exige que indivíduos, comunidades, economias e infra estruturas estejam preparados.
Por outro lado, sabe-se que as cidades e o modo de vida moderno não estão preparados para o cenário de eventos extremos que já vem dando mostras nas pancadas de chuvas torrenciais, deslizamentos de encostas, rajadas de ventos, ondas e ilhas de calor intensas, que levam a impactos seríssimos como secas prolongadas, secas prolongadas, crise hídrica e energética, com consequentes perdas de produção de alimentos, alteração de ciclos de vida de produtos industrializados, perdas econômicas e patrimoniais de vulto, riscos de vida e de saúde, principalmente para as populações vulneráveis.
Essa pesquisa estuda a fundo um perfil de assentamento humano – as ecovilas – que são comunidades de prática, que buscam a regeneração da vida natural, humana, social e econômica no Planeta como meta, cujos membros adotam ao deixarem os grandes centros urbanos, empregos e rotinas de vida de alto consumo e impactos em recursos naturais. A vida e convivência em ecovilas por toda parte do globo tem possibilitado a alteração de consciência de seus integrantes e engendrado a busca por soluções de baixo impacto e geradoras de valor social essencial.
Além disso, essas comunidades se organizam em redes e arranjos institucionais, unindo-se a múltiplos atores como empresariado, estado, academia e outros movimentos identitários, urbanos e rurais, a fim de tecer novas relações regeneradoras do tecido social e ambiental, contribuindo para a circulação de uma moeda mais limpa, inclusiva e mais sustentável. Além do mais, essas comunidades promovem educação e capacitação de pessoas na relação sustentável com o meio e seus ecossistemas, condições essas que também se alinham adequadamente aos dois conceitos complementares do HIDS: o uso sustentável de recursos e a promoção da integridade ambiental.
Assim, entende-se que haverá alinhamento e soma de esforços entre o HIDS e a pesquisa em andamento e seus resultados, pois poderá expor, concentrar e fortalecer modelos e dinâmicas de vida mais sustentáveis e governança participativa do clima, seja através de pesquisa inédita, seja através da aproximação com esses atores sociais. Assim, será possível ao HIDS se tornar efetivamente um pólo de atração de pesquisas e experiências complementares para uma governança climática eficiente e inclusiva. Efeitos como esses são resultados esperados do projeto de pesquisa em comento.
Público a ser impactado: Sociedade civil (movimentos sociais identitários, população urbana e rural, agricultores familiares e agroecológicos, comunidades tradicionais) instituições governamentais, terceiro setor, mercado
Fontes de financimento: FAPESP
Resultados: 1) Será importante verificar as modalidades de tecnologia social e ambiental de baixo impacto utilizadas pelas ecovilas rurais, paulistas e bávaras, que possam contribuir com os planos e agendas de adaptação à crise do clima e eventos extremos, cujos resultados colaborarão com outros tipos de assentamento humano, no país e exterior;
2) Desenvolvimento de agendas de adaptação climáticas próprias aos coletivos e em consonância com o território e paisagem em que estão inseridas. Esse know how e técnica poderão ser replicados a outros tipos de assentamentos;
3) Construção de redes e arranjos institucionais atuantes na mitigação de riscos e adaptação aos impactos climáticos, bem como em sistemas de alerta e governança climáticos no Brasil e exterior;
4) Conhecimento das experiências de ecovilas longevas e vibrantes, como ocorre na Alemanha, o que poderá servir como referência não apenas a essas comunidades, como a outras espécies de assentamento humano e organizações sociais no Brasil e exterior;
5) Elaboração de planos de capacitação e treinamento na governança e adaptação à crise climática e eventos extremos às ecovilas e outros perfis de assentamento humano no Brasil e no exterior;
6) Formação de rede de coalisão de governança climática rural;
7) Organização de eventos acadêmicos de reunião de experiências afins para o público nacional e internacional;
8) Sobretudo, o estudo poderá proporcionar o compartilhamento de novas vias e arranjos institucionais, que fortaleçam o empreendedorismo social, a cidadania e a justiça climática de ambos os países.
Cronograma: Etapa Brasil de coleta de dados: 2023
Etapa Alemanha de coleta de dados: 2024
Tratamento de dados: 2024 e 2025
Redação da tese: 2025 até junho de 2026
Arquivo: 1685134148-arquivo-Luciana-Lima-projeto-Doutorado-Ambiente-e-Sociedade-2022-v23-vf.pdf